Andava de um lado para outro. Cogitava a possibilidade, nem tão remota, de atirar-se do décimo - quarto andar do hotel Hilton. O luxo já não supria a falta de felicidade; a vida se tornara insuportável…
Há anos vivia uma mentira; sentia-se como se nada fosse; era um reflexo vazio nas vidraças da suíte presidencial; era apenas mais uma mulher de meia idade, com seu casamento falido e duas garrafas de uísque escocês – diga-se de passagem -, legítimos.
Afogara-se em mágoas. Aquelas duas garrafas ainda eram poucas para que conseguisse resgatar dentro de si um pouco de coragem para viver; ou então, para matar-se de vez. Era fraca de mais; era frágil. Dependente…
Sentia um torpor pelo corpo. Seus lábios, ainda róseos, começavam ficar dormentes; suas mãos, já dementes, sequer conseguiam segurar firme a lâmina que ensaiava um profundo corte em seu pulso… mas, sem demora, estava feito! Sentou-se na cama. Olhava obliquamente para o nada, enquanto lhe escorria a vida. A vontade de atirar-se ainda não havia passado; pegou, sobre a cômoda, cigarros. Voltou a andar de um lado para o outro, como se isso ajudasse a dissipar a angústia que também a matava lentamente.

Morrera com classe. E esse era seu último desejo…