(/.Existem coisas mais importantes que as próprias palavras…)
— Mãe, olhe-me nos olhos, por favor!! Há dias eu tento dizer a você o quanto isso tudo está sendo difícil pra mim. Repara em mim. Não me dê as costas, eu ainda estou tentando te dizer o quanto eu mudei; o quanto eu cresci. Se eu te contar uma história polêmica você me empresta um mísero minuto do seu tempo? Desculpe-me, mas eu te fiz algo? Por que você me evita? Você não gosta mais de mim, é isso? — Mariana hesitou. — Eu quero conversar com você, posso? Eu só quero dizer que estou indo embora! Mãe?
A mãe de Mariana continuava andando pelo corredor da casa. Alheia a tudo, alheia a todos. Ela estava com um aspecto triste, sombrio; como se estivesse aprisionada por seu moralismo, por suas convicções. E seus olhos haviam perdido aquele brilho, aquela luz de outrora. Ela sentou em um banquinho de madeira, pegou um álbum de fotos antigas. Permaneceu imóvel; calada. Mariana pegou sua mochila, pois ali estava tudo o que havia lhe restado; ali estavam todos os seus sonhos, quebrados. Ela passou a mão nos cabelos desgrenhados de sua mãe; deu-lhe um beijo na testa e foi embora, ainda confusa. Ainda existia uma última lágrima no olhar dela; esta ousou em não cair.
A porta bateu com a força do vento, e Mariana descia as escadas correndo; como se fugisse da masmorra; como se fugisse das únicas lembranças de sua vida. O táxi já a esperava na portaria. Ela entrou no carro e pediu para que o motorista seguisse para a praia.
Chegando lá, ela pagou o motorista; pegou sua mochila; tirou as sandálias que tanto que a incomodavam. Estava liberta de toda a amargura causada pela indiferença de sua mãe.
A brisa trazia-lhe um frescor capaz de apaziguar sua alma tórrida. Seus cabelos soltos; seus pés, sobre a areia fina, descalços. Estava livre agora. Livre!! Mas tudo o que ela desejava era prender-se; e fincar os pés na terra seca; e desvendar mistérios.
Sentou-se frente ao mar. Buscava agora as respostas que sempre temeu ouvir. Buscava um ponto de referência; uma lembrança qualquer. Algo que a prendesse nesse, ou em qualquer outro mundo. Respirou fundo… Sentiu um ardor em seu corpo; sentiu um anseio qualquer, por um alguém também qualquer; mordeu levemente os lábios; e seu olhar oblíquo, quase perdido na infinita dimensão do mar… a solidão era necessária!
Nada importava agora… seus preceitos sequer existiam! Havia parado de reprimir seus impulsos lascivos, devassos; havia desistido de refutar o incontestável. Fechou os olhos. Estava prestes a descobrir o conhecimento. Ordenava todos os pensamentos soltos em sua mente; e as respostas dissipavam seus questionamentos… Não precisava mentir nunca mais. Já não era dependente do vínculo obsessivo que mantinha com sua mãe; já não sentia vergonha de quem realmente era, e despia-se.
Olhou para o mar, novamente; o sol queimava sua pele rosada e desnuda. Encheu os pulmões de ar, soltando, em seguida, um brado forte:
— Hipocrisia, nunca mais!
E mergulhou dentro de si para sempre, pois havia se tornado a própria imensidão do mar…